quinta-feira, 7 de maio de 2015

Entre Frestas


Foto por Ju Tessaro


Entre Frestas

Vem o dia por entre os prédios
Olhando os becos, beijando os muros

Forte sol que atravessa
Por entre as frestas,  dos inseguros

Você não sabe o que te espera
Ela não entende,  está em apuros

Se não há tempo
Não lhe prenda os punhos

O telhado esconde o céu profundo
Escorre pela janela
A Brisa solta no mundo

Fernanda Tessaro
***

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Centro


Sou um ser sem gosto.
No desgosto faço meu sossego.
De passagem quero ver seu rosto,
e confesso: ao meio dia esqueço.

Sou um tanto desajeitado,
na cidade faço harmonia.
Sou do centro. Do meu nariz
escorre
a cor que não representa o dia.

Em meu dorso sou pesado e lento
do meu ventre só rimará o vazio.
Entre cabos e desenlaços
sou concreto, mas já fui um rio.

Fernanda Tessaro
***

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Massas de Metal


Diante dos olhos passam as massas de metal
e vivo no hostil da lata
na terra sem horizontes do reino
do pré-sal.

De costas para o sol eu ando
a venerar o despropósito.

Levanto os braços e, fiel ao hábito,
o ônibus para e eu entro.
Pago os sonhos alheios à crédito
e de costas para o sol eu sento.

Nunca quis e nunca disse
e não vou onde nunca irei,
mas que eu não volte, por esses dias,
a andar por onde andei.

Que eu não fale o nome das cores,
assim, da boca para fora.
Que eu não cometa, na brincadeira,
o erro de dizer a hora.

Vi, pela janela, na calçada da avenida,
uma loja de carros, outra loja de carros,
uma mecânica, uma loja de autopeças,
grudada nela uma loja de motos,
uma borracharia,
e então subi o viaduto.

Juliana Tessaro
***

quinta-feira, 13 de março de 2014

Marrentismo XIV

Foto por Juliana Tessaro.

Marrentismo XIV

No rio da avenida, branco e vermelho,
onde peixes de luz nadam loucos,
sorri todo o meu sorriso de aparelho.


Juliana Tessaro 
***
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Olhar Retirante Servindo à Noite e aos Berços das Árvores


Do profundo de uma língua extinta
ao vasto da estrela morta.

Estudamos a noite
como se ela fosse o campo da nossa horta.

Como se plantássemos sonhos com hora marcada para nascerem.

E nascem
de cesariana durante uma noite de tempestade.

Acredito nos sóis e nos genes e no que vi pelos olhos dos outros.

Na noite comercial;
no supermercado 24 horas;
nas árvores que apanham nos berços;
no retirante que nunca vai embora.

Acreditamos no um dia a menos.
Um a menos em frente à mira.
Retirante é o que aqui não mora.
Retirante é o que se retira.

Juliana Tessaro
***

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Passaporte

Em outra vida
que não esta
beijo seus lábios,
seguro sua mão.

Em outra vida
que não esta
acontece
o que nesta não.

Andamos na praça,
sentamos à margem
de lagos serenos;

e subimos nas pedras
em uma viagem
que nunca faremos.

Na nova combinação
das coisas todas,
nesta outra dimensão,
faremos bodas.

Na outra fatia
da realidade
o silêncio do dia
será metade

do som da noite
que será o dobro.

E em torno do globo
não precisaremos
de passaporte

e toda a terra
será tão pouca
que não cobrirá
a nossa morte.


 Juliana Tessaro
***



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Marrentismo XII


 Foto por Juliana Tessaro.
                                                                                                                                                    

Marrentismo Laboral XII

A barriga na altura do teclado.
Os olhos na altura do monitor.
A cabeça nas alturas.

Juliana Tessaro 
***
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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Marrentismo X


A fome é uma onda
tão pesada quanto a influência
de um irmão mais velho.

Juliana Tessaro 
***
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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Marrentismo VIII


Não gosto mais do vento
e vivo a vida
de um aspirador de pó.

Juliana Tessaro 
***
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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Rústica

 
Ser a moça mais linda do povoado.
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.
Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho...
- Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho...
Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à "terra da verdade"...
Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.

Florbela Espanca (Charneca em Flor )

***
Quando li soube que foi escrito para Fernanda, Luciana e para Denise Marrentinha que me apresentou esse monstro que é a Florbela.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Sol no Topo do Prédio


O sol no topo do prédio.
Embaixo há sombra.

O que assombra é o ódio,
a apatia e o tédio
de ter o que comer.


Juliana Tessaro
***

terça-feira, 23 de julho de 2013

Marrentismo VI


Ridículo é uma palavra
sem antônimo. Palavra tão neutra.
Poderia ser o meu nome.

Juliana Tessaro 
***
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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mu Cephei


Morrer poderá aquele que já morreu?
Poderá perder-se o fantasma entre as sombras da sua própria noite?
Como a sorte atuou enquanto ele viveu?
Rodopia a sorte em minha órbita, os escombros de um satélite.

Seria ele um encanto ou um enfeite?
confeito do bolo que gira em torno da vela

se apaga um dia num espasmo um dia no espaço
e assisto hoje a morte daquele que já morreu
e perde-se o fantasma em sua noite em sua sombra
e na poeira que hoje é o que um dia foi a sua obra
perde-se o encanto o bolo e o enfeite
e apaga-se a vela

Juliana Tessaro
***

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Marrentismo IV



  Foto por Juliana Tessaro.
                                                                                                                                                                                   


Marrentismo IV

Tudo é cimento duro.
Em torno do rio
um muro.


Juliana Tessaro
***
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Ismália no Tatuapé

Foto por Juliana Tessaro

Quem nunca se apaixonou por Ismália não gosta de poesia! É lindo, é maravilhoso! Mas acho que um dos versos ficou perdido no metro Tatuapé... o verso "As asas que Deus lhe deu" não está lá. Cadê as asas da Ismália? (só repara quem decora poemas)

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


Alphonsus de Guimaraes

sexta-feira, 22 de março de 2013

Marrentismo II

                                                                       Foto por Thicma

Marrentismo II

Todos choramos
a extinção
da margem de erro

Juliana Tessaro 
***
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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Mate o Poeta


Mate o poeta
de liras camufladas,
de surtos de inverno

e deita as palavras
em leito eterno!

Mate o poeta
que se diz amante,
de palavras não polidas

que cortam a garganta
quando são engolidas.

Mate o poeta
que ao desejar o sonho
envolve-se em maldizer

e torna-se descarado
só por ser.

Mate o poeta
que fura os olhos do leitor
e o faz sangrar em lavas.

Mate o poeta
que mata as palavras.
Juliana Tessaro
***

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Dogmatismo do Fanático

Na idade do chimpanzé
eu nada queria saber.

- Fala! E eu te batizo.
fiquei calada
não disse nada
não foi preciso

a bíblia que eu não leio
que eu nunca leio a bula
não tem remédio o Anseio
e a Dúvida não tem cura
Juliana Tessaro
***

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Dor Celeste

Escrevi este há muito tempo. Elevei um pouco o cosmo dele e ficou assim:

Dor Celeste

Quando vazia eu vago
e coloco os pés no infinito.
Invade-me a dor celeste,
corta por dentro um grito.

No comprimido estômago,
explode uma supernova.
E quero - a toda prova -
ver tudo que é bonito.

Vejo o que não se olha.
Ouço o que não se escuta.
Os olhos molhados diante
das belezas na disputa.

A mim é que eu não vejo.
Olhando o sol, a minha espera.
O nada que eu desejo.
Acima da atmosfera.
Juliana Tessaro
***

Foto por Juliana Tessaro



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Soltando Pássaros


Em um momento de impulso, como quem comia balas, ela foi até a gaiola, e sem olhar para dentro dela, girou a fechadura e abaixou a portinha.
Mais rápido que fosse possível mudar de ideia, o pássaro olhou para a mão que ainda tocava a portinha, e num pulo de passarinho voou para o céu azul, persistente, de São Paulo.
Milena segurou-se na gaiola por mais alguns segundos, não viu o pássaro voar, olhava para sua mão, como se o tempo tivesse parado, como se o pássaro fosse sobreviver, como se não estivesse louca.
O pássaro não era seu, mas para ela pássaros não eram de ninguém. A barriga redonda, o bico fino, o canto.
Andou a tarde toda por ruas que não andaria se. Procurava no céu algum pássaro, mas o céu estava vazio. Ela nunca foi muito atraída por pássaros.
Por que a tarde fazia isso com ela? - Perguntava inconscientemente. Ela sabia que as tardes a encantavam e tinham sobre ela um efeito que não sabia explicar perfeitamente. A tarde parecia sempre o fim.
Muito mais fortes eram as tardes como esta, com o sol de lado na Terra.
Andava como se fosse em linha reta. Era um quasar de buraco negro. Ajudou e atrapalhou vidas nessa tarde, assim como em todas as outras.
Olhou diretamente para o Sol e voltou os olhos rápidos, fechados para o chão. Um pouco da retina havia sido queimada mais rapidamente do que é queimada diária e lentamente.
Gostaria de poder ver o sol como ele é. Tocar o sol.

Juliana Tessaro 
***
Dedicado à minha amiga Lu que me inspirou a postar no Blog de novo. E se não fosse por ela encontraríamos muitos erros de pontuação nesse texto. Dona do Blog - Admirável Poema Novo

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mais um dela

Se a minha irmã continuar a escrever assim, não sobra espaço para mim.

Hoje quis fugir do meu lar
O berço seguro da sensatez
Banhei-me toda em emoção
Um sorriso tão largo tomou meu rosto
Tive que fechar os olhos

Subi aos céus num rodopio de bailarina
Alguns segundos me seguravam em suspensão
Foi tão certo correr o risco
Tão instável ao cair no chão

Se pudesse imaginar um pouco mais
Saberia não fazer o que pode causar dor
Buscaria o limite sem perder a cabeça
A vida é frágil
O risco que se corre, por querer viver
Não se finda enquanto posso morrer

Fernanda Tessaro
***

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Exílio


É isso que sinto no momento, nem precisei escrever meu próprio poema...


UMA CANÇÃO
Minha terra não tem palmeiras...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.

Minha terra tem relógios,
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes...
Mas onde o instante de agora?

Mas onde a palavra "onde"?
Terra ingrata, ingrato filho,
Sob os céus da minha terra
Eu canto a Canção do Exílio!

         Mario Quintana


sexta-feira, 4 de maio de 2012

umcavaleiroumcavaloumjumentoumescudeiro


Séculos depois, passeando por SP...estou apaixonada!!!

Pablo Picasso: Dom Quixote


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Fernanda

Não publico os meus, mas sim os dela.


Ouço passos...
Mas, não posso ver
Quem está ai?
Sei que o conheço
Mas ainda não consigo ver
Quem está ai?
Sua mão quente toca minha pele fria
Dou um salto!
suspiro...
Só vejo uma sombra
Ele não tem identidade

Fernanda Tessaro
***

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Entendi

Toalha
molhada
o mesmo
que nada.
Juliana Tessaro
***

terça-feira, 19 de julho de 2011

Álvares de Azevedo

É ele! É ele! Depois de tanto tempo ainda sou apaixonada por ele! É amor, só pode ser amor! Álvares!
Obrigada pela companhia.

Soneto

Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade,

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!



Álvares de Azevedo

domingo, 25 de abril de 2010

Stephan's Quintet


(foto da galera "Stephan's Quintet" por Hubble..rs)

Astronomia é para mim mais que uma religião, é mais que meditar, mais que poesia...
Quando estou desesperada (pior sentimento do mundo). Quando quero fazer sentido (coisa impossível). Quando vejo gente séria (quando eu estou séria!), sabendo que ser sério não existe. Quando estou "trabalhando"!?! Quando acho que sou mais inteligente que os outros, quando me sinto mais burra que os outros. Penso no tempo, e que ele não é nada para nós além do que percebemos dele, e que o que percebemos dele é que ele é tudo para nós, mas ele na verdade não deve existir. Provavelmente é só o que percebemos dele e nem tudo o que percebemos é verdade. Então pergunto: o que é um pensamento em comparação ao sol? Não sei... penso no infinito e fico mais leve, como se eu não fosse nada, o que provavelemente é verdade e isso faz com que eu sinta menos responsabilidade sobre tudo. Quem tem responsabilidade sobre o sol, sobre os sóis e tudo mais???...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Casa das rosas

Foto por Juliana Tessaro.



Casa das Rosas, diz pra cidade
o quão cinzenta e feia ela está e pinta a cidade
com as cores da poesia

quarta-feira, 3 de março de 2010

Condição

Quem colocou
em minha cabeça desejos?
Quem fez cegos
meus conselheiros?
Quero não querer,
mas isso é tudo:
eu quero.

Juliana Tessaro
***