Diante dos olhos passam as massas de metal
e vivo no hostil da lata
na terra sem horizontes do reino
do pré-sal.
De costas para o sol eu ando
a venerar o despropósito.
Levanto os braços e, fiel ao hábito,
o ônibus para e eu entro.
Pago os sonhos alheios à crédito
e de costas para o sol eu sento.
Nunca quis e nunca disse
e não vou onde nunca irei,
mas que eu não volte, por esses dias,
a andar por onde andei.
Que eu não fale o nome das cores,
assim, da boca para fora.
Que eu não cometa, na brincadeira,
o erro de dizer a hora.
Vi, pela janela, na calçada da avenida,
uma loja de carros, outra loja de carros,
uma mecânica, uma loja de autopeças,
grudada nela uma loja de motos,
uma borracharia,
e então subi o viaduto.
Juliana Tessaro
***
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