Em um momento de impulso, como quem comia balas, ela foi até a gaiola, e sem olhar para dentro dela, girou a fechadura e abaixou a portinha.
Mais rápido que fosse possível mudar de ideia, o pássaro olhou para a mão que ainda tocava a portinha, e num pulo de passarinho voou para o céu azul, persistente, de São Paulo.
Milena segurou-se na gaiola por mais alguns segundos, não viu o pássaro voar, olhava para sua mão, como se o tempo tivesse parado, como se o pássaro fosse sobreviver, como se não estivesse louca.
O pássaro não era seu, mas para ela pássaros não eram de ninguém. A barriga redonda, o bico fino, o canto.
Andou a tarde toda por ruas que não andaria se. Procurava no céu algum pássaro, mas o céu estava vazio. Ela nunca foi muito atraída por pássaros.
Por que a tarde fazia isso com ela? - Perguntava inconscientemente. Ela sabia que as tardes a encantavam e tinham sobre ela um efeito que não sabia explicar perfeitamente. A tarde parecia sempre o fim.
Muito mais fortes eram as tardes como esta, com o sol de lado na Terra.
Andava como se fosse em linha reta. Era um quasar de buraco negro. Ajudou e atrapalhou vidas nessa tarde, assim como em todas as outras.
Olhou diretamente para o Sol e voltou os olhos rápidos, fechados para o chão. Um pouco da retina havia sido queimada mais rapidamente do que é queimada diária e lentamente.
Gostaria de poder ver o sol como ele é. Tocar o sol.
Juliana Tessaro
***
Dedicado à minha amiga Lu que me inspirou a postar no Blog de novo. E se não fosse por ela encontraríamos muitos erros de pontuação nesse texto. Dona do Blog - Admirável Poema Novo
Juli, fico muito feliz em ler algo seu depois de tanto tempo! Todos temos um pouco de Milena dentro de nós, essa busca... esse desejo. As tardes nos aproximam do sol, o mundo se acalma e fica único. Como não amá-lo?
ResponderExcluirEspero que a inspiração dure por muito tempo e você possa continuar enriquecendo nossas vidas com suas lindas palavras.
Ceci...nem preciso dizer...postei por você e pelo meu ego....rsrsrs
ExcluirObrigada pelas palavras.
Esse nome, a nossa familia. bonito mana!
ResponderExcluirÉ Mussa mussa
ExcluirUsou muito bem as palavras, gostei muito destas partes: "com o sol de lado na Terra". e "Era um quasar de buraco negro".
ResponderExcluirFicou muito bonito o SOL DE LADO NA TERRA...Bem imagético.
e o trocadilho/contraste: "quasar de buraco negro"...luz/ escuridão...
Nunca tinha ouvido essa palavra antes: quasar. Boa! Gosto de palavras desconhecidas. rs
E me lembrou um pouco o estilo da Clarice Lispector. simples. preciso. profundo...
bjus Alyne Louise
Uau Alyne!!! Com direito a "lembrou um pouco o estilo da Clarice Lispector" Valeu!!!
ExcluirAo infinito e além! Rs... Mais uma linda expressão de platonismo como tudo o q escreve - vc é msm única, comovida e comovente, parece sempre em busca do intocável. Gostaria realmente de ver o Sol como ele é? Cuidado com o q deseja menina Ícaro, o salto literário grafado com pena de gaivota na cera da tabula descreve uma idéia fixa q ñ pode ser realizada. A condição das coisas tal como elas são, nem sempre condiz com nossa íntima expectativa do q deveriam ser. Mas vc tem q tentar, afinal, pelo menos alguns sonhos se realizam ñ é? Ñ mude nunca senhorita Tessaro, rumo a Solaris ;-)
ResponderExcluirÉ bom te ler de novo!
Bjs.
O q aconteceu com minha literata favorita!? A maior escritora desde Mary Shelley decidiu anunciar outro hiato ou está se preparando para o solstício cristão? Espero q meus comentários especificamente direcionados estejam sendo igualmente motivadores, ou será q estou pisando na bola de novo? Seja como for, te desejo um Feliz Natal, muita paz e "tudo de bom" (se é q isso existe... rs), bjs.
ResponderExcluirGustavo...é sempre divertido ler um comentário seu! Que legal que gostou do meu texto. "Menina Ícaro"...gostei...rs
ResponderExcluirTudo de possivelmente bom para vc também...e agora já é "feliz 2013".