quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Centro


Sou um ser sem gosto.
No desgosto faço meu sossego.
De passagem quero ver seu rosto,
e confesso: ao meio dia esqueço.

Sou um tanto desajeitado,
na cidade faço harmonia.
Sou do centro. Do meu nariz
escorre
a cor que não representa o dia.

Em meu dorso sou pesado e lento
do meu ventre só rimará o vazio.
Entre cabos e desenlaços
sou concreto, mas já fui um rio.

Fernanda Tessaro
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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Massas de Metal


Diante dos olhos passam as massas de metal
e vivo no hostil da lata
na terra sem horizontes do reino
do pré-sal.

De costas para o sol eu ando
a venerar o despropósito.

Levanto os braços e, fiel ao hábito,
o ônibus para e eu entro.
Pago os sonhos alheios à crédito
e de costas para o sol eu sento.

Nunca quis e nunca disse
e não vou onde nunca irei,
mas que eu não volte, por esses dias,
a andar por onde andei.

Que eu não fale o nome das cores,
assim, da boca para fora.
Que eu não cometa, na brincadeira,
o erro de dizer a hora.

Vi, pela janela, na calçada da avenida,
uma loja de carros, outra loja de carros,
uma mecânica, uma loja de autopeças,
grudada nela uma loja de motos,
uma borracharia,
e então subi o viaduto.

Juliana Tessaro
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quinta-feira, 13 de março de 2014

Marrentismo XIV

Foto por Juliana Tessaro.

Marrentismo XIV

No rio da avenida, branco e vermelho,
onde peixes de luz nadam loucos,
sorri todo o meu sorriso de aparelho.


Juliana Tessaro 
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Os Marrentismos de números ímpares você encontra no blog da Lu - Admirável Poema Novo

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Olhar Retirante Servindo à Noite e aos Berços das Árvores


Do profundo de uma língua extinta
ao vasto da estrela morta.

Estudamos a noite
como se ela fosse o campo da nossa horta.

Como se plantássemos sonhos com hora marcada para nascerem.

E nascem
de cesariana durante uma noite de tempestade.

Acredito nos sóis e nos genes e no que vi pelos olhos dos outros.

Na noite comercial;
no supermercado 24 horas;
nas árvores que apanham nos berços;
no retirante que nunca vai embora.

Acreditamos no um dia a menos.
Um a menos em frente à mira.
Retirante é o que aqui não mora.
Retirante é o que se retira.

Juliana Tessaro
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Passaporte

Em outra vida
que não esta
beijo seus lábios,
seguro sua mão.

Em outra vida
que não esta
acontece
o que nesta não.

Andamos na praça,
sentamos à margem
de lagos serenos;

e subimos nas pedras
em uma viagem
que nunca faremos.

Na nova combinação
das coisas todas,
nesta outra dimensão,
faremos bodas.

Na outra fatia
da realidade
o silêncio do dia
será metade

do som da noite
que será o dobro.

E em torno do globo
não precisaremos
de passaporte

e toda a terra
será tão pouca
que não cobrirá
a nossa morte.


 Juliana Tessaro
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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Marrentismo XII


 Foto por Juliana Tessaro.
                                                                                                                                                    

Marrentismo Laboral XII

A barriga na altura do teclado.
Os olhos na altura do monitor.
A cabeça nas alturas.

Juliana Tessaro 
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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Marrentismo X


A fome é uma onda
tão pesada quanto a influência
de um irmão mais velho.

Juliana Tessaro 
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