Em um momento de impulso, como quem comia balas, ela foi até a gaiola, e sem olhar para dentro dela, girou a fechadura e abaixou a portinha.
Mais rápido que fosse possível mudar de ideia, o pássaro olhou para a mão que ainda tocava a portinha, e num pulo de passarinho voou para o céu azul, persistente, de São Paulo.
Milena segurou-se na gaiola por mais alguns segundos, não viu o pássaro voar, olhava para sua mão, como se o tempo tivesse parado, como se o pássaro fosse sobreviver, como se não estivesse louca.
O pássaro não era seu, mas para ela pássaros não eram de ninguém. A barriga redonda, o bico fino, o canto.
Andou a tarde toda por ruas que não andaria se. Procurava no céu algum pássaro, mas o céu estava vazio. Ela nunca foi muito atraída por pássaros.
Por que a tarde fazia isso com ela? - Perguntava inconscientemente. Ela sabia que as tardes a encantavam e tinham sobre ela um efeito que não sabia explicar perfeitamente. A tarde parecia sempre o fim.
Muito mais fortes eram as tardes como esta, com o sol de lado na Terra.
Andava como se fosse em linha reta. Era um quasar de buraco negro. Ajudou e atrapalhou vidas nessa tarde, assim como em todas as outras.
Olhou diretamente para o Sol e voltou os olhos rápidos, fechados para o chão. Um pouco da retina havia sido queimada mais rapidamente do que é queimada diária e lentamente.
Gostaria de poder ver o sol como ele é. Tocar o sol.
Juliana Tessaro
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Dedicado à minha amiga Lu que me inspirou a postar no Blog de novo. E se não fosse por ela encontraríamos muitos erros de pontuação nesse texto. Dona do Blog - Admirável Poema Novo